Valorizando Autores Nacionais #1 / Rafael Pombo

março 17, 2018


   Olá meus queridos leitores! Como anda a vida? Nessas duas semanas eu dei uma sumida, mas agora estou de volta com algumas novidades, a primeira delas é o projeto Valorizando Autores Nacionais em parceria com a Monyque do Submersa em Palavras, em que a cada mês traremos uma entrevista com autores da nosso querido Brasil.
   E para começar esse projeto trouxemos o Rafael Pombo, autor de Os mecanismos do mundo e Quatro mundos, dois livros que fiquei super interessada assim que li a sinopse!



  •   Agora vamos para a entrevista:

Uma vez, quando falei para a minha mãe que queria ser escritora ela me disse: então tenha outra carreira antes pois demora a render. Com você também aconteceu isso de pensar em uma carreira antes e ter a escrita como secundária ou você simplesmente queria exercer as duas carreiras?

   Num mundo ideal, eu apenas escreveria, haha. Mesmo na faculdade, se alguém viesse me perguntar, eu diria que a psicologia é que era algo secundário para mim, e que como profissão o que eu queria mesmo era escrever. Mas veja bem: como profissão a psicologia é secundária, mas o saber psicologia está intimamente ligado a quem eu sou, ao meu interesse pelo ser humano, ao que tenho vontade de ler, e acaba sendo usada também quando escrevo. Volta e meia me perguntam se eu nunca considerei fazer letras ou jornalismo, e eu digo que sim, mas hoje penso que o que aprendi em psicologia é um complemento mais útil ao que escrevo e me permitiu enxergar as pessoas de um modo menos simplista.

   É bom salientar também que escrever nem sempre demora a render, se você fizer as coisas certas, for muito determinado, disciplinado e tiver sorte. Já há muitos autores independentes na Amazon, por exemplo, especialmente no mercado norte-americano, ganhando muito dinheiro, muito mais do que autores tradicionalmente publicados, porque eles são superprodutivos e entendem bem seu nicho. É possível publicar três ou mais e-books por ano e ter uma renda boa se você conseguir se tornar conhecido. Eu mesmo adoraria conseguir produzir tanto (como no período escrevendo Os mecanismos do mundo) e fazer tantas conexões (fico tímido) para ter sempre muita coisa a oferecer a muita gente, mas tenho minhas dificuldades.

Ao ler a sinopse de ambos os seus livros fiquei intrigada e muito curiosa para ler, mas o que eu quero mesmo saber é de onde veio sua inspiração inicial para esses livros, ou ao menos para o primeiro? Algum sonho, situação pela qual passou...

   A primeira semente de ideia que eu tive para Os mecanismos do mundo foi uma cena que me veio à cabeça de um adolescente dizendo que um garoto mais novo da escola dele era sobrinho dele, e não irmão (cena que acabou entrando no livro sem grandes alterações). Fiquei pensando que curioso ser uma pessoa tão nova e ter um sobrinho não muito mais novo estudando na mesma escola que você. Algum tempo depois, eu ouvi alguém cantar em uma música japonesa "sekai no karakuri", que em uma tradução literal é "mecanismos do mundo", no sentido de "artimanhas do mundo". Pensei: "Esse vai ser o título do meu livro. É uma filosofia do protagonista." E assim ficou mais fácil guiar a história.

   "Trovão do Céu Azul", como eu mencionei antes, eu escrevi para um tema que era algo como "mundos fantásticos", ou seja, escrever uma história que ocorresse num mundo de fantasia diferente do nosso. A primeira ideia veio quando vi uma ilustração de uma artista japonesa (comigo o Japão nunca para, haha) chamada inucoco no site Pixiv (https://www.pixiv.net/member_illust.php?mode=medium&illust_id=11270875). Depois, de novo em uma música, eu ouvi a expressão "seiten no hekireki", que literalmente quer dizer "trovão do/no céu azul", significando algo que vem do nada, inesperadamente, out of the blue. As coisas foram se encaixando (de modo que qualquer autor sabe como é, mas nunca sabe exatamente explicar como acontece) até que a história tomou forma na minha cabeça.

   "Espadas do sacrifício" veio do tema "espada e feitiçaria". Espadas mágicas que falam por conterem espíritos ou algo assim são comuns em mangás, animes e tudo mais, e a história foi se revelando a partir desse conceito.

   "Adagas e aranhas", com o tema "caçadores de fantasmas", apareceu primeiro na minha mente como uma imagem de vários cavaleiros usando armaduras de cor roxa em uma espécie de palácio imenso e assombrado. No final das contas, porém, os detalhes mudaram e eu tive de simplificar a história para que coubesse em um conto.

   "Mil grous de papel", tendo como tema "desejos", foi uma história de uma espontaneidade incrível tanto para bolar quanto para escrever. Eu tinha assistido a um documentário no YouTube sobre as dificuldades que os decasséguis brasileiros passam no Japão, incluindo a educação dos filhos. Às vezes, por falta de dinheiro, esses filhos que estudavam em escolas brasileiras privadas que existem no Japão eram obrigados a se mudar para escolas japonesas que, apesar de públicas, geralmente não têm um bom preparo para receber alunos que falam outros idiomas, por isso eles têm dificuldades de se adaptar. Então, até aí, eu estava apenas ficcionando um fenômeno real, só faltava algo do tema "desejos". Logo lembrei que há uma lenda no Japão de que, se você dobrar mil grous de papel (também conhecidos como tsuru), você pode curar alguém de uma doença, e em alguns lugares a lenda inclui a realização de qualquer desejo. Como eu disse, a história veio de maneira tão espontânea, que eu nem a planejei direito antes de escrever; ela simplesmente foi se revelando conforme eu escrevia, de forma muito natural. Então me surpreende que tenha dado certo, a ponto de já terem me dito que é o melhor dos quatro contos.

Nos dois livros você mostra o ponto de vista de mais de uma pessoa, você pretende continuar com essa prática nas próximas obras?

   Em certo sentido, é a história que "dita" a necessidade de um ou mais pontos de vista. Alguns escritores são conhecidos por terem histórias que sempre transitam entre vários pontos de vista, e isso talvez aconteça porque a forma deles de elaborar uma história já está intimamente ligada à necessidade de mostrar diferentes pontos de vista. Então, por exemplo, autores que tendem a escrever histórias com muitos personagens talvez logo vejam que mais personagens precisam que os detalhes de suas histórias sejam contados, que eventos que os envolvem e não somente o protagonista precisam ser mostrados. Pessoalmente eu não creio que tenha maior propensão a escrever histórias com esse ou aquele número de pontos de vista. De uns tempos para cá, eu tendo a questionar a necessidade de incluir certas coisas, com medo de que sejam irrelevantes para a história e até parecer muito amador (uma das reclamações de editores hoje é que autores iniciantes escrevem DE MAIS, achando que se colocam mais informação, escrevem melhor, quando geralmente é o contrário), mas se outro ponto de vista fizer sentido e parecer essencial, não tenho o menor problema de incluí-lo.

 Espero que tenham gostado tanto quanto eu gostei. E não se esqueçam de dar uma olhada no blog da Monyque para ver o resto da entrevista!

   Um beijo sabor mamão,
       sua Rebeca






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10 comentários.

  1. Tô bem animada de fazer esse projeto contigo Rebeca, amei 😄

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    1. Oi Monyque, eu também estou bastante empolgada! Beijos.

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  2. Que legal o projeto! Acho super importante valorizar os autores do nosso Brasil.
    Um abraço. Versos da Alma

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  3. Amei sua iniciativa, acho muito importante valorizar nossas riquezas.
    Parabéns pelo post flor.

    Beijão!
    http://luumusiando.blogspot.com.br/

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    1. Obrigada Duda! Também acho importante valorizar esses nossos autores, ultimamente valorizamos e nos importamos mais com outros países do que o nosso, chegando ao ponto de desprezamos nossas riquezas, isso precisa mudar! Beijão.

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  4. Nosso país é sortudo por possuir essas jóias e precisamos muito dar valor. Adorei a matéria.

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  5. Que bacana isso. Eu também tenho pesquisado e lido alguns novos autores da nossa literatura e sabe, tenho gostado bastante. Julián Fuks é um deles. Já anotei sua dica e procurarei saber mais sobre este autor ;-)

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    1. Oi, que bom que você se interessa pela literatura do nosso país! Beijos.

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